segunda-feira, 29 de outubro de 2012

As Crônicas de Paulo Mocorongo


Em algum dia nos anos 80...
Antes de sair para o trabalho, o então jovem Paulo Mocorongo foi até a cozinha tomar um copo de água. A ressaca era grande.
Tomou tudo em um só gole. Encheu um segundo copo e, bebendo com a mesma avidez, engasgou logo no começo deixando o copo cair. Desengasgado, decidiu limpar os cacos de vidro quando a água já tivesse secado ao voltar do trabalho. Prestes a sair, viu que suas chaves não se encontravam penduradas na porta trancada. Fez uma busca pela sala, corredor, quarto e banheiro. Voltou à cozinha lembrando que objetos perdidos sempre estão mais perto do que se pensa e no último lugar que se procura. Porém, também não estava na cozinha. Como não lembrava nem como chegou em casa na noite anterior, Paulo achou que seria forçar demais sua dor de cabeça tentando lembrar de um pequeno detalhe dentro de uma noite inteira de amnésia alcoólica. Religioso não praticante, e como não tinha nada a perder, pediu à “São Longuinho, São Longuinho, se eu encontrar minhas chaves eu darei mais três pulinhos”. Ao aterrissar do último da primeira série, no entanto, seus pés escorregaram na água cortante sobre o chão da cozinha. Caindo de costas, bate a nuca na pia estraçalhando sua terceira vértebra e deixando-lhe tetraplégico. Deitado imóvel, vendo o mundo de uma perspectiva passiva, Mocorongo avista suas chaves embaixo da geladeira. Impedido de cumprir a outra metade de sua promessa, recebe a visita do próprio São Longuinho, o qual veio pessoalmente cobrar a dívida. Percebendo a limitação de seu devedor, o santo resolve negociar. Em troca do primeiro pulo toma sua voz. Sem ouvir uma contraproposta, pega a audição e visão pelo segundo e terceiro pulos. Pela demora no pagamento São Longuinho ainda lhe dá uma enxaqueca crônica, mais três anos de vida vegetativa de brinde e vai embora satisfeito.

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